
O Núcleo instávelmica Nuclear
Introdução




Embora
muitas rochas já venham emitindo radiação desde a formação de nosso planeta, foi
só em 1896 que, oficialmente, o químico francês Henri Becquerel anunciou
a descoberta da
radioatividade (emissão de partículas alfa pelo elemento
rádio), em um encontro da Academia de Ciências de Paris. Logo, o estudo da
radiação se tornou intenso dentro da comunidade científica, e suas aplicações
não tardaram: ainda no início do século 20, Wilhem Conrad Roentgen
descobriu as propriedades dos raios-X, e seu uso potencial na medicina.
O casal
Marie Curie e Pierre Curie são, talvez, dois dos mais famosos
cientistas da história, e conhecidos por seu trabalho pioneiro no estudo da
radioatividade (o estudo da radiação foi iniciado com
o elemento rádio - daí a designação genérica "radioatividade"). Além do
rádio, eles estudaram propriedades do urânio e tório, e também descobriram o
polônio. Marie Curie é a única pessoa a ter ganho um prêmio Nobel na Química
e outro na Física! O termo "curie" se refere, hoje, à unidade
de uma medida utilizada em estudos da radiação. Além de fantásticas aplicações,
os elementos radioativos trazem consigo um enorme e invisível perigo: a
exposição prolongada pode provocar, nos humanos, diversos males, até mesmo a
morte.
![]() Contador de Geiger-Muller: a radiação entra no tubo e produz ionização das moléculas gasosas, gerando uma corrente elétrica, cuja intensidade é registrada pelo ponteiro. |
Esta também foi uma das descobertas dos pioneiros: o assistente de Thomas Edison morreu com um tumor induzido pela hiper-exposição à radiação. Vários soldados e operários de indústrias bélicas morreram ou foram contaminados, durante a 2a. guerra mundial, com material radioativo. Para melhor visualização noturna, todos os ponteiros, marcadores e displays dos aviões, tanques e outros veículos eram pintados com uma tinta contendo isótopos radioativos dos elementos rádio e fósforo, para que brilhassem no escuro, e possibilitasse manobras noturnas. Em 1915, a British Roentgen Society determinou normas de segurança para a pesquisa ou trabalho com radiação - foi a primeira atitude organizada para a proteção contra radioatividade.



A filha do casal Marie e Pierre, Irène Curie, e seu marido, Frédéric Joliot, estudaram o bombardeamento do núcleo do átomo de alumínio com partículas alfa. A reação produziu nêutrons e um isótopo radioativo do fósforo (A=30). Para surpresa do casal Joliot-Curie, este isótopo do fósforo emitia um tipo de partícula ainda desconhecida: de mesma massa do elétron, mas de carga oposta. Esta partícula foi chamada de pósitron, e é representada pelo símbolo +1e.
(etapa
1)27Al +
4He2+
30P +
1n
(etapa 2) 30P
+1e
+30Si

(etapa 2) 30P

Tanto o pósitron como o elétron (partícula beta) são formados por desintegração do nêutron ou do próton. Um nêutron pode se transformar em um próton e emitir uma elétron; o próton, pode se transformar em um nêutron e emitir um pósitron.
1n
1H+ +
-1e
1H+
+1e + 1n

1H+

![]() Na figura ao lado, representa-se toda a série de decaimento radioativo do Urânio-238. Cada emissão ALFA corresponde a uma diminuição de 4 unidades no número de massa atômica e de 2 unidades no número atômico, pois a partícula alfa é o 4He2+. Uma emissão BETA não provoca alteração no número de massa, uma vez que um nêutron se transforma em um próton: com um consequente aumento do número atômico. O processo culmina com a emissão de elétrons - as partículas beta. |
Datação com isótopos radioativos Outra aplicação da Química Nuclear é a arqueologia: a medida da atividade de isótopos radioativos pode nos fornecer a idade da amostra. "Datação com carbono-14" é um termo bastante comum, mesmo fora da ciência. Diversos artefatos famosos ja foram datados com esta técnica, tal como centenas de ossos de dinossauros, alguns mamutes congelados e um pedaço de pano com o suposto desenho de Jesus. Para entender como a datação é feita, é necessário compreender o conceito de meia-vida. A radioatividade é um produto do decaimento nuclear. Nós não podemos predizer quando um determinado núcleo ira decair, mas nós podemos predizer precisamente qual é a taxa de decaimento de grande número de átomos radioativos (na mesma forma em que uma seguradora não pode dizer se um determinado segurado vai ou não morrer em um determinado dia, mas pode dizer quantos clientes irão falecer neste dia!). O tempo transcorrido para que metade dos átomos radioativos presente em uma amostra sofram decaimento é chamado de tempo de meia-vida. Esta é uma constante para cada tipo de elemento radioativo, e compreende valores que vão de desde alguns milisegundos até 1015 anos! O t1/2 do 14C, por exemplo, é de 5730 anos. ![]()
ln
(N/N0) =
(0,693/t1/2)t
A razão N/N0 pode ser obtida pela razão R/R0, isto é, a razão entre a taxa de decaimento radioativo no tempo t (R) e a taxa de decaimento no tempo t=0 (R0). É exatamente desta maneira que se faz a datação de artefatos antigos com 14C; esta técnica é extremamente útil quando se trata de matéria orgânica. Na atmosfera, a maior parte do carbono está sob a forma de CO2. O isótopo do carbono mais abundante é, de longe, o 12C, mas existe uma certa fração de outros isótopos; entre eles, o 14C. O carbono-14 é instável, e sofre decaimento com emissão b; o tempo de meia-vida é de 5730 anos. Uma amostra da atmosfera que contém 1 grama de carbono sofre 15,3 desintegrações por minuto. Este valor é uma constante e assume-se que tem estado assim há vários milhares de anos: a razão 14C/12C é constante, na atmosfera. Quando um organismo ainda é vivo, ele troca permanentemente carbono com a atmosfera, e a razão 14C/12C é nele também constante; porém, quando morre, a troca com a atmosfera é interrompida e, com o decaimento do 14C, a razão 14C/12C fica cada vez menor. Como consequência, o taxa de decaimento da amostra também diminui. Para melhor entender, vamos considerar um exemplo: um determinado artefato egípcio foi encontrado em uma pirâmide. A contagem de 14C mostrou que uma amostra contendo 1g de carbono sofre 11,3 desintegrações por minuto. Qual é a idade do artefato? Para saber, basta aplicarmos a equação acima: ln(11,8/15,3) = (0,693/5730anos)t como resultado, temos que t = 2.150 anos. ![]() A datação com carbono-14, entretanto, tem uma série de limites: somente funciona com amostras orgânicas, cuja idade está entre 500 a 50.000 anos. Outros elementos radioativos fornecem informações para a datação de outros materiais. Vimos que o urânio-238, por exemplo, sofre decaimento até chegar no elemento estável chumbo-206. Nos minerais, a relação 238U/206Pb é utilizada para a datação. O mesmo ocorre com o par 40K/40Ar. Revista eletrônica do Departamento de Química - UFSC www.cmqweb.org |
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